segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Filosofia em 140 cc

Será que Sócrates utilizou seus 140 caracteres depois de beber seu cálice de cicuta? Eis a questão...
Retornando depois de alguns meses (ai, vários!) de ausência da blogosfera, inauguro um espaço dedicado a pensamentos, conjeturas, ditos, não-ditos, alucinações, demências, patifarias... enfim, manifestações de caráter filosófico - todos com base nos já globalizados 140 caracteres.

**Se todos twitam, por que eu não twito?**

Simplesmente por achar lastimável o desperdício de ótimas idéias em apenas 140 cc! Idéias e ideais existem para serem expostos e debatidos, sem limites. É ótimo que exista um espaço na web que permita o exercício da objetividade, mas é tão importante, além disso, abrir um caminho para os pensamentos que exijam mais expressividade, que não se explicam adequadamente em tão pouco espaço/tempo. É justamente esta pluralidade de lugares expressivos que torna a infosfera tão multi-experimental e aberta a inserções.

Então, a proposta é twitosofar, ou seja, expressar idéias em até 140 caracteres - e explicá-las em outros tantos, se for necessário.

Quanto a Sócrates, pode até ser que seu último suspiro tenha perdurado até o 140º caractere. Mas certamente a explicação de seu suicídio ocupou muito mais espaço do que isso...

sexta-feira, 12 de março de 2010

O que ensinar para espanhóis e estrangeiros em Sevilha

Nascer na Europa não é um privilégio. Aqui tem pobreza, desigualdades sociais, corrupção, mentes pequenas e espíritos diminutos tanto quanto em solo Latino Americano. Espanhóis estão na Europa, no Velho Mundo, no âmago da cultura, blá blá blá, mas estão em desvantagem em relação a nós: não podem ser considerados como um povo que tira proveito das adversidades.

Se chove, os espanhóis reclamam. Se faz sol, reclamam. Se está frio, maldizem o tempo, o clima, o planeta. Se faz calor, dizem que a culpa é do governo. Ou seja, nunca estão contentes com nada, absolutamente nada.

E como são trágicos! Misericórdia! Pelo que notei não existe uma escala que mostre o quão desventuroso é algum fato - não há meio-termo: eles morrem por absolutamente qualquer coisa! Se o cão do vizinho da avó morreu, choram ininterruptamente durante uma semana e a dona passa o resto do ano vestida de preto. Quando o time da cidade perde, fazem escândalo e, como sempre, a culpa nunca é dos jogadores pernas-de-pau, mas sim do time oposto que deve ter feito um pacto com o demo para vencer a partida.

Nós, brasileiros, também temos nosso quinhão de alma trágica, mas nós seguimos em frente, passamos pelas adversidades. Os espanhóis, não. Eles gostam de sofrer, e chorar, e se lamentar... por qualquer coisa.

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Acho que eles precisam ver o lado clean da vida, esquecer um pouco o seu posto de "nação ancestral" e viver o hoje. Ter o passado sempre presente às vezes é uma sina, nada além . E esse país é a prova viva disso!

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Obviamente existem mais algumas coisas que, tanto espanhóis como turistas na Espanha devem aprender. A lista é grande, mas ater-me-ei apenas em alguns ensinamentos básicos e cruciais.
1-Nem todo estrangeiro é surdo.
2-Um idioma serve para que as pessoas se comuniquem e se entendam. Faça um bom uso de seu idioma, articule as palavras como elas são, não resmungue e não grite como uma senhora desprovida de discernimento.
3-Ter uma cadeira vazia ao lado não significa que você está convidado para beber junto. Peça licença, pegue a cadeira e vá beber com sua turma.
4-Você fuma. O cigarro é seu. Eu não fumo, por que o câncer de pulmão tem de ser meu?
5-Sim, uma argola dourada no dedo anular da mão esquerda significa que a pessoa é casada. Pra que perguntar?
6-A pia da cozinha foi feita apenas para lavar louças, nada (e quando eu digo nada, é nada mesmo!) além de louças.
7-Bicicleta é um meio de transporte ecologica e politicamente correto, que foram feitas para circular por vias específicas, e não sobre os pés das pessoas. Principalmente se as pessoas forem idosas.
8-Por mais que seja permitido, existem certas coisas que não devem, em hipótese alguma, serem jogadas no WC.
9-Banho diário não é um luxo, mas necessidade. Além disso não mata e faz bem pra saúde.
10-Existe uma infinidade de tipos e marcas de desodorante, é só escolher um e usar.
11-Sim, sou brasileira, mas no Brasil não existe somente carnaval, futebol e caipirinha. Por acaso todo espanhol é toureiro?

------------------ A Saga Andaluza -------------------------

Parte I
(em tom épico)

Queridos! Que saudade de vocês!!! Espero que tudo esteja resplandecente com o ardente sol fronteiriço.... mas motejeis, meus amigos, porque sobre vocês não pairam os pecados concupicientes do Velho Mundo e tampouco os maus augúrios dos verdugos ancestrais!

Eis que aportei justamente no seio incólume da matreirice contemporânea! Ontem, por exigência das circunstâncias capitalistas vi-me impelida a consultar meus humildes proventos através do ente pseudo-real conhecido pela alcunha de WWW. Pois em meio à sondagem de minha modesta condição material, subitamente, o tal doblevêdoblevêdoblevê negou-me tal ensejo! E o fez de modo tão brusco e inumano que tampouco aceitou replicações de minha indignada pessoa.E o maior despautério de todos: roubou-me, por um momento, o direito civil de usufruir do sacro ato de levantar bens do caixa-eletrônico.

Visualizem o contexto, camaradas... um ser humano, pecador consciente, submetido às mais variadas tentações do consumismo exacerbado... sem dinheiro. Pois este ser desaventurado era
eu. Imaginem, caríssimos: sem beca, sem proventos, sem efígies e tampouco cartão de crédito. Eu era o reflexo perfeito da miséria!

Desdita maior, irmãos, é o ato covarde das grandes cadeias de grife, que, justamente neste momento de fragilidade, expõem seus finos artigos à exclusão. Valentino, Chanel, Vitor Hugo, Balenciaga, Fendi...tudo! Tudo ao alcance apenas dos desejos de uma humilde (e desprevenida)
consumidora. Ai de mim! Agora me restavam apenas as belas imagens da prosperidade de antanho, além das sublimes paisagens andaluzes (pelo menos isso!)... apenas isso, e nada mais...

Mas, dado tempo ao tempo, desvendei a ordinária desfaçatez do gênero humano! Não é que, no
mesmo dia de minhas desventuras em série, uma rede internacional de piratas on-line foi veementemente desmascarada? Sim! Oh, sim! Todos aqueles cruéis carniceiros, invejosos da pujança de outrem urdiram vilanias impensáveis com o capital alheio, deixando milhares (senão alguns milhões) de pobres consumistas como eu, à mercê da frieldade inorgânica da insolvência.

Malditos! Mil vezes malditos!

Mas como ao Universo lhe foi outorgado o revoluteio ao infinito, eis que o nobre Atlas auxiliou-me, fazendo com que nosso orbe girasse mais depressa... Milagrosamente a bravata foi
desmascarada, os culpados tiveram seu momento de vergonha midiática, e tudo voltou ao seu curso normal. Mas, o melhor de tudo, meus amigos, é que eu podia novamente! Mais uma vez estava empoderada monetariamente! Até o sol brilhou mais intensamente naquele momento, e eu notei que, no exato instante de minha descoberta, seu brilho tremeluziu sutilmente e eu ouvi... sim, sim, naquele instante inócuo, ouvi! Um suave ruído como de harpas e arranjos quase doces tocados em alaúdes afinados por vozes de querubins... e a eles mesclava-se um murmúrio como cântico de anjos entoando uma ode, na qual pude, claramente, distinguir a palavra... "liquidação". Minhas preces foram ouvidas, e fui abençoada pelo panteão de entidades que palmilha os céus!

Mal sabia eu que uma simples loja havia se transmutado numa selva repleta de animais sedentos por consumir...

(Continua...)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

La odisea de la habitación

Chucky Andalus: el muñeco asesino

Quem nunca assistiu a pelo uma das películas do "brinquedo assassino", que se maniffeste. Quem nunca ouviu falar dele, pode arriscar uma facada. Pois é, o boneco maldito apareceu novamente, só que desta vez, em plena Andaluzia. Sua cara malvada impressionou tanto ao gênio cão do cinema espanhol que Almodóvar resolveu ressucitar el maniquí de uma foma mais tênue e realista. Talvez efeito da luna gitana que paira sobre Sevilha.

Bem, vamos aos fatos. Estou buscando um quarto de aluguel para passar meus 4 mesinhos de Sevilha. Entre tanta procura e não-respostas, fui até um certo prédio nº 41 da Calle Niebla. O local era propício para rodar um filme de terror digno das produções Z do Zé do Caixão (com todo o respeito, é claro!). Mas era um lugar tão medonho, tão medonho, que, frente a ele, até dor de barriga de lacto purga perde sua intensidade. Em comparação, acho que era tão asqueroso quanto o banheiro do filme "balada do pistoleiro" (exagerada!).Bom, o fato é que o lugar era realmente bizarro.

Do hall de entrada, que começava numa porta de ferro pesadíssima que mal pude empurrar, surgia um corredor rebaixado, estreito, putrefato. Como sempre, nesses corredores de prédios antigos, há uma lâmpada piscando - mais clichê impossível! - criando um ar de filme de terror barato, uma realidade disforme que o cérebro interpreta como cheirando a baratas. Um senhor vinha na minha direção e, sinceramente, quase o confundi com Gregor Samsa. Nesse momento eu já me perguntava se o filme era dirigido realmente pelo Almodóvar ou pelo George Romero. Enfim, o senhor passou por mim e, normalmente, exalou um leve odor de naftalina. Até aí tudo normal.

As escadas eram tão estreitas e íngremes que, numa olhada de soslaio, poderíam facilmente ser confundidas com um tobogã: um resvaladouro de substâncias desconhecidas e purulentas. Eca! Acho que fazia anos que não eram limpas. Mas tudo bem, na subida todo santo ajuda.

Cheguei no 3º piso e a porta estava aberta. Deus! Melhor se não estivesse! A sala não era sala, parecia uma ala de uma campo de concentração nazista; a cozinha parecia um chiqueiro, o banheiro até que estava limpo - e foi por isso, e somente isso, que, após esta inóspita visita, concluí que ali habitavam humanos (dos mais estranhos tipos, mas, humanos).

Mas pior era la habitación. Misericórdia! A atmosfera do lugar era povoada por um misto de névoa e enxofre, com um toque de zorrilho, o que combinava perfeitamente com os móveis - que certamente eram fruto de alguma casa demolida na época de Guernica - e com as paredes, de um branco-acinzentado-cor-de-hospício. Esse era o cenário.

Tenho certeza de que se eu remexesse naquele baú antigo que estava meio escondido na sala, disfarçado de mesa de centro, eu encontraria o Cucky. Absolutamente! Chucky estava lá, eu senti isso. Eu sei que estava: meu olho de Thundera nunca falha!

Onde entra Almodóvar nisso tudo? A dona do lugar era uma típica personagem-fetiche de Almodóvar. Obviamente não comparada à Carmen Maura, Victória Abril, ou (vá lá!) Penélope Cruz; parecia-se mais com Rossy de Palma. Sim! Sem dúvidas era Rossy de Palma, com uma saia vermelha, um casaquinho marrom e resmungando (como todos os espanhóis).

Certifiquei-me de que não havia nenhuma câmera escondida no lustre da sala, que o Chucky não estava à minha espreita embaixo da mesa (sim, meus queridos, eu me abaixei e ergui a toalha!), agradeci a atenção e saí dali o mais rápido que pude, enfim, não queria que alguma entidade "grudasse" em mim.

Mas pensando bem, o local era perfeito para uma versão espanhola de brinqueso assassino. O cenário já estava montado (e era real), a atriz-fetiche já estava inclusive maquiada a caráter, o clima era favorável ao terror...

...o único problema é que a vítima, certamente, seria eu.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Peripécias viageiras

Aterrissei em solo europeu em terras de 'aquém mar' - Lisboa. Camões que me perdoe, mas presenciei algumas atitudes sem serifa, belos espécimes lusos de antipatia, ou, no mínino, cinismo (e, por que não dizê-lo, do estilo grotesco de ser?). Ok, Ok! Estou exigindo demais de um ser humano às 8h da manhã de uma segunda-feira, num dia frio, num local onde o sol começa a brilhar apenas a partir das 8h15min? Acho que não. O fato é que se espera que um ser humano normal, educado, gentil, com serifas no mínimo perceptíveis em nível telepático, é que responda à uma pergunta da forma mais simples possível, sem piadas inapropriadas.

Sim, porque se é muita exigência ser simpático à essa hora a manhã-grada européia, também o é responder de forma cínica. Caso contrário seriam dois pesos e duas medidas na avaliação do caso. Ora, pois!

Ilustrando:

Cena: manhã de segunda-feira no aeroporto de Lisboa em frente ao portão de embarque número sete. Muito frio, céu claro, sol despontando. Muito frio. O vôo para Sevilha está atrasado e alguns passageiros parecem inquietos, hesitantes (perguntar ou não perguntar?).
Eu: Bom dia! Quando será o embarque para Sevilha?
Gajo da Companhia Aérea: Ôra! Não há âvião âinda, há? Quando o âvião chegar, fâremos o embarque!
Eu (pasma): Muito obrigada pela informação!
Gajo da Cia Aérea: aquiesce com a cabeça, faz pose de que a situação era óbvia e continua a conversar com sua companheira.
Eu: saio de cena.

O pior de tudo é que esse foi o fato marcante durante minha hora de permanência no aeroporto de Lisboa.

Moral da história: por mais serifadas que certas atitudes sejam, basta um único uso do princípio grotesque para que toda polidez se perca. E o que restarão são lembranças de uma odisséia sem serifas...

A salvação da memória foi o fato de eu chegar em Sevilha uma hora após a chegada do avião no local de embarque e ser saudada pelos agentes aduaneiros que, gentilmente, solicitaram que eu abrisse minha mala preta.

E a ilíada estava apenas começando...

Ahora en Sevilla...

!Hola! ?Qué tal?

Pois é, agora estou na Europa. Uma oportunidade ímpar de avaliar, a partir de uma perspectiva sócio-antropológica/comunicacional se os espanhóis podem ser considerados exemplares de um povo com serifa. Sevilha, além disso, é o lugar para verificar in loco se os europeus em geral são adeptos (ou não) do princípio da serifa.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Pachouchada com serifa é mais bonita...

Aprecio serifas não pela sisudez estética que aparentam, mas sim pela aura de delicadeza que emitem. Com serifa até uma parolaccia torna-se terna, quase diáfana aos olhos. Querem um exemplo?

Toleirão!

Toleirão!

É evidente o tom de desacato, grito que emana da primeira palavra, ao passo que a outra soa apenas como um chamamento. Isso mostra um fato que já é do cotidiano dos intern@utas desde o início do século: ofender alguém em Arial é mais impactante que em Times New Roman - principalmente se for em negrito. Se gritar com alguém via mensagem de texto é sinônimo falta de entendimento, de alteração, de ruído comunicacional, um grande percentual do impacto é causado pela dupla corpo sem serifa + negrito. Sendo assim, não entendo a intolerância com os tipos serifados, visto serem justamente eles os contidos, os brandos, os mansos da tipografia. Será pelo fato de representarem ser frágeis, tênues e sutis?

Seja como for, parece que, mesmo com o advento da tecnologia, lapsos de comunicação continuam a acontecer, e cada vez tornam-se mais intensos. E grande parte dos desentendimentos poderia ser evitado se os indivíduos agissem como se tivessem serifas.