segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

La odisea de la habitación

Chucky Andalus: el muñeco asesino

Quem nunca assistiu a pelo uma das películas do "brinquedo assassino", que se maniffeste. Quem nunca ouviu falar dele, pode arriscar uma facada. Pois é, o boneco maldito apareceu novamente, só que desta vez, em plena Andaluzia. Sua cara malvada impressionou tanto ao gênio cão do cinema espanhol que Almodóvar resolveu ressucitar el maniquí de uma foma mais tênue e realista. Talvez efeito da luna gitana que paira sobre Sevilha.

Bem, vamos aos fatos. Estou buscando um quarto de aluguel para passar meus 4 mesinhos de Sevilha. Entre tanta procura e não-respostas, fui até um certo prédio nº 41 da Calle Niebla. O local era propício para rodar um filme de terror digno das produções Z do Zé do Caixão (com todo o respeito, é claro!). Mas era um lugar tão medonho, tão medonho, que, frente a ele, até dor de barriga de lacto purga perde sua intensidade. Em comparação, acho que era tão asqueroso quanto o banheiro do filme "balada do pistoleiro" (exagerada!).Bom, o fato é que o lugar era realmente bizarro.

Do hall de entrada, que começava numa porta de ferro pesadíssima que mal pude empurrar, surgia um corredor rebaixado, estreito, putrefato. Como sempre, nesses corredores de prédios antigos, há uma lâmpada piscando - mais clichê impossível! - criando um ar de filme de terror barato, uma realidade disforme que o cérebro interpreta como cheirando a baratas. Um senhor vinha na minha direção e, sinceramente, quase o confundi com Gregor Samsa. Nesse momento eu já me perguntava se o filme era dirigido realmente pelo Almodóvar ou pelo George Romero. Enfim, o senhor passou por mim e, normalmente, exalou um leve odor de naftalina. Até aí tudo normal.

As escadas eram tão estreitas e íngremes que, numa olhada de soslaio, poderíam facilmente ser confundidas com um tobogã: um resvaladouro de substâncias desconhecidas e purulentas. Eca! Acho que fazia anos que não eram limpas. Mas tudo bem, na subida todo santo ajuda.

Cheguei no 3º piso e a porta estava aberta. Deus! Melhor se não estivesse! A sala não era sala, parecia uma ala de uma campo de concentração nazista; a cozinha parecia um chiqueiro, o banheiro até que estava limpo - e foi por isso, e somente isso, que, após esta inóspita visita, concluí que ali habitavam humanos (dos mais estranhos tipos, mas, humanos).

Mas pior era la habitación. Misericórdia! A atmosfera do lugar era povoada por um misto de névoa e enxofre, com um toque de zorrilho, o que combinava perfeitamente com os móveis - que certamente eram fruto de alguma casa demolida na época de Guernica - e com as paredes, de um branco-acinzentado-cor-de-hospício. Esse era o cenário.

Tenho certeza de que se eu remexesse naquele baú antigo que estava meio escondido na sala, disfarçado de mesa de centro, eu encontraria o Cucky. Absolutamente! Chucky estava lá, eu senti isso. Eu sei que estava: meu olho de Thundera nunca falha!

Onde entra Almodóvar nisso tudo? A dona do lugar era uma típica personagem-fetiche de Almodóvar. Obviamente não comparada à Carmen Maura, Victória Abril, ou (vá lá!) Penélope Cruz; parecia-se mais com Rossy de Palma. Sim! Sem dúvidas era Rossy de Palma, com uma saia vermelha, um casaquinho marrom e resmungando (como todos os espanhóis).

Certifiquei-me de que não havia nenhuma câmera escondida no lustre da sala, que o Chucky não estava à minha espreita embaixo da mesa (sim, meus queridos, eu me abaixei e ergui a toalha!), agradeci a atenção e saí dali o mais rápido que pude, enfim, não queria que alguma entidade "grudasse" em mim.

Mas pensando bem, o local era perfeito para uma versão espanhola de brinqueso assassino. O cenário já estava montado (e era real), a atriz-fetiche já estava inclusive maquiada a caráter, o clima era favorável ao terror...

...o único problema é que a vítima, certamente, seria eu.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Peripécias viageiras

Aterrissei em solo europeu em terras de 'aquém mar' - Lisboa. Camões que me perdoe, mas presenciei algumas atitudes sem serifa, belos espécimes lusos de antipatia, ou, no mínino, cinismo (e, por que não dizê-lo, do estilo grotesco de ser?). Ok, Ok! Estou exigindo demais de um ser humano às 8h da manhã de uma segunda-feira, num dia frio, num local onde o sol começa a brilhar apenas a partir das 8h15min? Acho que não. O fato é que se espera que um ser humano normal, educado, gentil, com serifas no mínimo perceptíveis em nível telepático, é que responda à uma pergunta da forma mais simples possível, sem piadas inapropriadas.

Sim, porque se é muita exigência ser simpático à essa hora a manhã-grada européia, também o é responder de forma cínica. Caso contrário seriam dois pesos e duas medidas na avaliação do caso. Ora, pois!

Ilustrando:

Cena: manhã de segunda-feira no aeroporto de Lisboa em frente ao portão de embarque número sete. Muito frio, céu claro, sol despontando. Muito frio. O vôo para Sevilha está atrasado e alguns passageiros parecem inquietos, hesitantes (perguntar ou não perguntar?).
Eu: Bom dia! Quando será o embarque para Sevilha?
Gajo da Companhia Aérea: Ôra! Não há âvião âinda, há? Quando o âvião chegar, fâremos o embarque!
Eu (pasma): Muito obrigada pela informação!
Gajo da Cia Aérea: aquiesce com a cabeça, faz pose de que a situação era óbvia e continua a conversar com sua companheira.
Eu: saio de cena.

O pior de tudo é que esse foi o fato marcante durante minha hora de permanência no aeroporto de Lisboa.

Moral da história: por mais serifadas que certas atitudes sejam, basta um único uso do princípio grotesque para que toda polidez se perca. E o que restarão são lembranças de uma odisséia sem serifas...

A salvação da memória foi o fato de eu chegar em Sevilha uma hora após a chegada do avião no local de embarque e ser saudada pelos agentes aduaneiros que, gentilmente, solicitaram que eu abrisse minha mala preta.

E a ilíada estava apenas começando...

Ahora en Sevilla...

!Hola! ?Qué tal?

Pois é, agora estou na Europa. Uma oportunidade ímpar de avaliar, a partir de uma perspectiva sócio-antropológica/comunicacional se os espanhóis podem ser considerados exemplares de um povo com serifa. Sevilha, além disso, é o lugar para verificar in loco se os europeus em geral são adeptos (ou não) do princípio da serifa.